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Metaleiro e antifascista Alex duarte já é uma figura carimbada da cena alternativa potiguar, porém é conhecido pela sua posição política e pesonalidade forte. metaleiro, assistente social, bissexual e outros adjetivos compõe a sua vida. mas, vamos conhecer um pouco a sua história

De shortinhos curtos, brinco de argola e um bigodão de respeito. Foi assim que conheci o guitarrista Alex Duarte no El Rock, quando ele foi tocar com o Morto, uma de várias bandas que ele participa da cena alternativa natalense. Durante os períodos de manhã e tarde, ele trabalha como assistente social, ajudando principalmente os moradores de rua. Além disso, ele tem as suas próprias bandeiras, como o antifascismo, do LGBT e da Não Monogamia.

O Brechando foi o entrevistar para saber um pouco mais dessas inúmeras façanhas deste artista e vocês vão se encantar com a forma lúdica de explicar as coisas.

A primeira pergunta é: Como começou no Rock?

Humm...Acho que tinha uns 14/15 anos, a rádio foi bem crucial... Gostava de ouvir e tinha uma que tocava uns rocks, e pop que eu sempre gostei, sons mais mainstream da época...Era legal, gravava as musicas em fitas k7. Daí fui conhecendo outras coisas. Com 16 eu entrei na fase headbanger e estudava no Sagrada Família. Lá entrei para a primeira banda e tocávamos cover de Sepultura, Metallica...Depois foram bandas com amigos de bairro e me evolvendo cada vez mais com essa cultura.

Dsde então nunca parei hehe.

Quando você descobriu que a heteronormatividade era uma "furada" na sua vida?

Ahhh logo cedo rsrsrs. Acho que minha primeira experiência bi foi com 11 anos...Mas aquela coisa né, meio traumática kkk.

Sou de uma geração que infelizmente não encontrou uma base material e subjetiva que pudesse acolher essa sexualidade sem reprimi-la, este “vir a ser”. Então abre espaço para muitos conflitos de identidade, fruto da moral repressiva sexual. Mas isso não impediu que a pratica se desse ,claro, durante toda minha vida tive momentos que experiênciei a bissexualidade, embora pouco resolvido com ela.

Apenas depois dos 30 anos foi que veio a emancipação politica na mesma, aquele momento em que você conhece as estruturas sociais, as relações que se dão através delas e com isso compreende o porquê que lhe é negado ser quem você é, isso nos dá uma força e renovação única. A bissexualidade é apagada na sociedade, através do patriarcado, da moral sexual repressiva, instituições religiosas, do jurídico... propriedade privada.

As relações sociais que se dão com essa base material. Assumir-se bi é um ato politico, pois não há outra forma de ser, em uma sociedade que lhe é negado o direito de existir da forma como se quer.

Já foi julgado por levantar as bandeiras? E o metaleiro é preconceituoso?

Bom, a militância LGBT tem resistência naqueles que insistem em naturalizar preconceitos e suas expressões. Entrando na sua segunda pergunta, na cena rock e mais especificamente na cena metal, encontramos muitos preconceitos e resistências, uma baita contradição, pois o underground metal através dos seus sujeitos, reproduzem os mesmos preconceitos da sociedade normativa cristã, vejam só rsrs,

Um espaço que deveria ser de subversão, contestação do normativo, absorve os mesmos preconceitos de uma sociedade que se diz ir contra rsrs. Patético né? Mas é o que ocorre, por outro lado é uma discussão que hoje em dia é acolhida pelo underground através de diversos sujeitos, não é algo que se faz sozinho, ainda bem, já estivemos piores.

Sou julgado de chato às vezes, ou como já disseram por em grupos de whatssap de metal “é um colega que não aceita brincadeiras”, não aceito mesmo, brincadeiras toscas, preconceituosas, que reproduzem estigmas sociais sobre sujeitos e classes sociais, não aceito mesmo, e entro no embate e debate ser for necessário, exponho se for necessário também, e não tem essa de hierarquizar metaleiro “ahh fulano é das antigas, sempre foi assim”, ele pode se o que for, foi imbecil vai ter sua atitude problematizada.

Alex durante protesto e trabalhando como músico

Já se sentiu sabotado na música por ser quem você é?

Isso já ocorreu mas por motivos de panelinha no underground e por outros motivos. Lembro que no final dos anos 90 inicio de 2000, eu tinha uma banda de black metal que misturava estilos, a gente tirava um cover do Tears for Fears e não éramos muito bem vistos por isso rsrs, rolou rumores que nos boicotaram de um festival por essa razão kk. No mais, nunca sofri preconceito pela militância, embora às vezes eu sinta certa resistência com minha presença politica nos espaços, mas normal isso, ossos do oficio.

Como você enxerga esse avanço do conservadorismo?

Acredito que faz parte de um processo global, fruto da crise capitalista de 2008, (quebra dos Lehman Brothers nos EUA) que se arrasta ate hoje e que nunca encontrou uma resolução, pelo contrário, com os anos aumentaram as dividas públicas, bolhas financeiras, déficit público, desemprego etc. Com a Pandemia atualmente, estamos prestes, segundo especialistas, a enfrentar uma crise econômica pior que a de 1929. Economistas já viam alertando para uma crise econômica generalizada.

O avanço do conservadorismo no mundo esta estritamente ligada a saídas politicas econômicas da direita e extrema direita para a crise de acumulação capitalista, esgotado as possibilidades do neoliberalismo em termos de crescimento econômico, somado com o fato de que os governos populistas de centro esquerda e de conciliação de classes não terem sido capazes de dar um rumo para a crise, em muitos países houve uma entrada de políticos reacionários, exemplos; Bolsonaro no Brasil, Donald Trump nos EUA, Jeanine Áñez na Bolívia, Piñera no Chile, Hungria com Viktor Orbán, Santiago Abascal na Espanha...

Estes políticos se muniram de retoricas nacionalistas e reacionárias, seus discursos cooptaram as insatisfações e inseguranças promovidas pela crise nas grandes massas, a burguesia, perdida a sua capacidade de se posicionar nos governos através dos partidos tradicionais, causado pelas descrenças nas saídas neoliberais, cede lugar para políticos com retóricas e discursos de “outsiders”, antisistema”, “diferentes” etc. Estes políticos trazem os discursos de defesa da família tradicional (Com isso anti LGBTQI+), de seus territórios (não atoa é quase hegemônico a retorica anti-imigração), da tradição, anti-aborto, dos costumes e da militarização da vida como saída para a crise da segurança etc. A verdade é que são políticos que trazem uma agenda ultraneoliberal de reajustes, flexibilização de leis trabalhistas, ataque a conquistas históricas no campo social, agenda de privatizações etc. Tudo em nome de recuperar a acumulação capitalista, fazendo com que a classe trabalhadora que pague pela crise que foi criada pelo próprio capitalismo.

É neste ponto onde entra o conservadorismo ligado ao sentimento das massas de insegurança da vida, e em particular no Brasil, sua base são políticos ligados a religiões, pentecostais em sua maioria, agronegócio, empresas de segurança privada, patronais do comercio, banqueiros etc. Com a retorica reacionária e conservadora dos costumes e tradições, promove reformas e ataques, flexibiliza leis trabalhistas, destrói a previdência pública, programa uma agenda de privatizações, tudo em nome de aumentar o lucro capitalista.

Desta forma o avanço do conservadorismo está estritamente ligado a degradação da vida, encontra um território de forte déficit educacional e da consciência das classes, pronto a aderirem a suas ideias frente a um pessimismo generalizado sobre a vida.

Sou julgado de chato às vezes, ou como já disseram em grupos de whatssap de metal “é um colega que não aceita brincadeiras”, não aceito mesmo, brincadeiras toscas, preconceituosas, que reproduzem estigmas sociais sobre sujeitos e classes sociais, não aceito mesmo, e entro no embate e debate ser for necessário, exponho se for necessário também

É possível o metal quebrar os paradigmas que nem o início ?

Acredito que sim, o Metal assim como outros nichos musicais, também passou e passa pelo processo de alienação, resultante do seu esvaziamento de conteúdo, conteúdo este que é responsável pela sua gênese, contracultura...contestação da ordem vigente nas letras e a própria base social que deu origem ao seu surgimento, esquecesse isso...a desalienação é um processo que envolve paciência, embates, continuidades e descontinuidades.

Você é um dos que prega a bandeira da não-monogamia, você poderia ajudar aos leitores a esclarecer o assunto de uma forma bem didática?

Acho que uma das primeiras coisas a serem ditas sobre a Não- Monogamia, a NM, é que ela não é uma forma de se relacionar. Por mais obvio que pareça é sempre bom dizer também que ela não é a mesma coisa que poligamia, devo dizer que é uma forma politica que propõem uma discussão e uma transformação radical das estruturas normativas que determinam as relações normativas, que são: Patriarcado, família nuclear, propriedade privada e estrutura de classes.

O Capitalismo as absorveu de forma especifica e são elas base material para sua manutenção. A família nuclear heteronormativa, tem como base a monogamia, que se dá através da propriedade privada, patriarcado e divisão de classes, que leva a uma especifica divisão de papeis entre os sujeitos que o compõem, o homem e a mulher.

A NM coloca as contradições dessas estruturas e discute a forma que elas se espraiam na subjetividade das relações afetivas. Sejam através do machismo nas relações ou pelo individualismo burguês do êxito do “amor”, pela relação entre sexualidade e reprodução biológica ou pela família nuclear com suas contradições.

É fato que a NM não se realizará plenamente (Isso não anula as realizações no campo individual) enquanto essas estruturas existirem e me parece bem obvio que a ruína dessas estruturas significa também a ruína do Capitalismo, mas essa é outra discussão,

Há muitos ensaios sobre relacionamento aberto, poliamor, anarquia relacional, relações livres. Várias formas, mas é preciso estar consciente que se trata de ensaios, decidir por algum “formato” desses, não implica estar liberto das velhas estruturas que se fazem presentes na subjetividade, as contradições ainda estarão presentes, porém é onde a NM política pode atuar, através de balanços sinceros e auto percepções nestas estruturas, bastante dialogo, sem espaço para auto sabotagem ou desonestidade, exemplo, a prática do “segredo” é comum na monogamia, na família nuclear, ela é um pilar, é uma ferramenta de manutenção de privilégios do patriarcado, combater nas relações essa prática através do diálogo sincero e aberto é uma posição NM, dentre tantas outras.

Não se trata de abolir a monogamia em si, mas de como ela se dá nas estruturas vigentes (criando particularidades com isso) e principalmente abolir sua hegemonia, como única opção hegemônica de se relacionar afetivamente.

Há muitos ensaios sobre relacionamento aberto, poliamor, anarquia relacional, relações livres. Várias formas, mas é preciso estar consciente que se trata de ensaios, decidir por algum “formato” desses, não implica estar liberto das velhas estruturas que se fazem presentes na subjetividade, as contradições ainda estarão presentes, porém é onde a NM política pode atuar, através de balanços sinceros e auto percepções nestas estruturas, bastante dialogo, sem espaço para auto sabotagem ou desonestidade, exemplo, a prática do “segredo” é comum na monogamia, na família nuclear, ela é um pilar, é uma ferramenta de manutenção de privilégios do patriarcado, combater nas relações essa prática através do diálogo sincero e aberto é uma posição NM, dentre tantas outras.

Para você por que a monogamia é uma furada?

Hahah não se trata disso, pensar com esse radicalismo seria desvalidar enquanto indivíduos as diversas experiências e realizações na monogamia, eu mesmo fui muito feliz e realizado na monogamia, hoje com 41 anos posso dizer que minha trajetória nas relações monogâmicas foram muito boas, tiveram saltos de qualidade, porém estas tinham seus limites de expansão de realização para mim e com isso criava-se contradições que produziam conflitos internos, além de que, me questionei enquanto homem cis nas estruturas subjetivas que herdei da educação patriarcal, esse balanço é importante pois fazem parte das relações afetivas e amorosas. É preciso ter em mente que é um processo continuo, principalmente de desconstrução das estruturas patriarcais da educação, e do mesmo jeito sua relação com as relações afetivas.

Desde que me decidi pela NM me sinto mais realizado, mas isso não significa nem um tipo de engessamento, ou iluminação rsrsr, significa que na própria dinâmica da vida, que á da transformação, permito-me compreender as continuidades e descontinuidades que a vida produz com sua riqueza de relações.

Voltando a falar do lado metaleiro, você é conhecido pelo seus shortinhos. O uso de shorts surgiu como uma forma de resistência ?

Não, acho que não, eu sempre gostei de explorar as possibilidades estéticas, como gosto de me produzir, modificar, e gosto do “afeminado”... Veio fruto disso mesmo, claro que se alargou com a emancipação politica que comentei, levando a me vestir como quero e gosto independente da divisão binaria de vestimentas, acho que naturalmente isso se transforma numa uma resistência em uma sociedade que normatiza até a forma de você se vestir.

Para finalizar, você já recebeu mensagens de apoios ou alguém falar “pô, cara, você me influenciou”?

Não desta forma exatamente, mas algumas pessoas já vieram conversar comigo sobre a militância LGBT, vieram dizer que se sentiam representados e o quanto isso era importante, principalmente no underground, claro que isso nos enche de forças mais ainda .Também não estou só nesta militância, conto com a ajuda de amiges que são uma verdadeira linha de frente, prontos para embates e lutas.