Bettina, transforme 1500 reais em formas que o brasileiro lute de igual para igual

Bettina, transforme 1500 reais em formas que o brasileiro lute de igual para igual

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Bettina, você nasceu rica, pare com esse discurso bonito! Bonita e bem articulada,a galega, como o bom jargão nordestino, ficou famosa por aquelas propagandas que passa no You Tube dizendo que conseguiu transformar 1500 reais em 1,5 milhão em três anos. A propaganda foi tão insistente que virou meme e problematização.

Poderia várias vezes bater na tecla de como a Empiricus Research errou na tecla de segmentação do público na hora de impulsionar no Google Ad, mas eles fazem isso desde a campanha do impeachment da Dilma Rousseff, no qual eles usavam aqueles banners de anúncios do Google para falar bem da expulsão da então presidenta e por isso não duvido deles até acharem bom da fama da Bettina, mesmo dela ter ficado com fama para sempre de patricinha, fútil e talvez mentirosa, visto que muitos economistas estão duvidando do caso, mesmo tendo investindo em títulos na bolsa de valores e criptomoedas.

Poderia também bater na tecla do machismo, porque o moço da Trivago também aparece várias vezes e é um meme. Mas, a Empiricus sabia que uma mulher iria impactar mais e gosta de ver a esquerda e direita enlouquecida para uma discussão política. Pois é, a Ellora Haonne comprou esse discurso do feminismo branco ao defender Bettina.

O problema é muito pior: ninguém falou para Bettina que ser milionário do país é privilégio da unha do pé até o fio de cabelo. Qual o problema em admitir que é privilegiado e ter a consciência de classe?

O problema não é ser rico, mas ser rico e achar que a realidade é a mesma para todos. Como assim ?

As pessoas querem porque querem insistir que dois garotos de 10 anos, mesmo um morando num bairro nobre e o outro numa favela, têm chances iguais, porque eles têm direitos iguais. Mas ninguém comenta que para chegar nesta igualdade social, os dois precisariam ter os acessos à mesma escola, saúde e lazer, além de uma estrutura familiar sólida para que as chances sejam iguais.

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O que mora na favela tem que esforçar e matar 50 leões por dia para conseguir estudar, ter acesso às necessidades básicas e ainda competir com centenas de estudantes que tem acessos aos cursinhos e aulas de reforço (além do colégio) para conseguir uma vaga numa universidade.

A tarde muitas vezes trabalha ou se vira para ajudar os pais na renda da casa. Raramente vai usar a sua tarde para o curso de inglês ou praticar um esporte.

Provavelmente nenhum professor falou para Bettina que tem mais chances de se dá bem na vida. Ou melhor, parar de celebrar as exceções, visto que as regras são as mais comuns.

Precisamos comemorar é aquele que transforma 1500 em sustento digno, cuja maioria do povo brasileiro ganha até esse valor, praticamente 1 salário mínimo e meio.

A internet é maravilhosa e já descobriu que a Bettina é herdeira de uma fábrica de cerâmica em Santa Catarina, além do investimento inicial veio de uma poupança feita pelos seus pais na juventude. Ou seja, ela não começou do zero, teve várias ajudas.

Enquanto a Bettina comemora os seus milhões, alguns brasileiros não sabem se vai ter 10 reais para comprar 1 kg de feijão no dia seguinte ou como se dividir para comprar aquele prato feito no intervalo do trabalho. Outros têm que usar a calculadora para dividir, 998 reais (salário mínimo para quatro pessoas).

Enquanto existe gente como Bettina bancando de nova rica sendo nascida rica, outros estão lavando banheiros de universitáriospara ver se conseguem passar no curso dos sonhos pelo Prouni.

Bettina, ensine o trabalhador a transformar 1500 em uma refeição completa, saúde mental em dia e que todos possam ir a praia no domingo de sol sem a preocupação de se vai ser roubado ou passar pelo constrangimento de ser confudido com ladrão enquanto anda nas ruas.

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A educação financeira, que é promovida pela empresa onde trabalha, deveria ser começada no ensino básico em todas as escolas, para saber a importância de economizar e dividir gastos ou ter consciência de que as lutas infelizmente não são iguais para todos, infelizmente a vida não é um videogame. Os chefões são piores.

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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