Olha eu novamente numa fila da tatuagem

Olha eu novamente numa fila da tatuagem

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A primeira vez que vi um corpo tatuado foi durante aquelas reportagens sensacionalistas de domingo na infância, eu imediatamente achei incrível alguém pudesse deixar aquele corpo colorido, apesar de não haver algum parente próximo assim. Achava que para fazer isso era apenas comprar aquele chiclete, botar o adesivo na pele e um pouquinho de água para introduzir na pele. Pronto, eu estava com o corpo tatuado e ficava triste quando saía rápido. Depois meus pais falaram que existia a de verdade, mas que as pessoas tinham que se furar como vacina (detalhe odeio ser vacinada até hoje) para colocar tinta. Então, eu só dizia que faria de henna, mas também ficava triste porque saía rápido.

Desde pirralha, eu tinha o interesse de marcar as coisas, desde riscar as paredes até a carteira de vacinação, no qual minha mãe guarda até hoje minha arte riscada com giz de cera laranja e aquele lençol sujo de cola colorida que nunca saiu a tinta nem com o sabão super incrível.

No entanto, as primeiras manifestações de cores vieram nos meus cabelos, que já foram azul, verde, vermelho, rosa, unicórnio e dentre outros. Eu gosto de modificar o cabelo e suas cores, porque acho que o castanho escuro cansa e é bom fugir da realidade para esquecer dos problemas ou encarar eles com uma armadura melhor, tipo aquelas pessoas que compram uma super skin no League of Legends.

Há três ou quatro anos, eu conheci o Roberto Nascimento em minha vida (Amém!), quando ele começou a tatuar os meus amigos e ficava louca com as cores de suas artes. Todos diziam: “Espera ele abrir a agenda”. Sendo que eles não me contaram que a população de Natal inteira estava lá, quase uma fila para o Sistema Único de Saúde (SUS). Beto, como é conhecido, é um dos principais tatuadores da cidade, conhecido pela beleza e custo acessível. Faz todo tipo de tatuagem, desde desenhos realistas até aquareladas. Começou na área comprando material para tatuar nele mesmo. Assim mostra que minha loucura bateu com a loucura dele logo de cara.

Um dia de 2015 resolvi ver um amigo meu fazendo uma tatuagem e decidi naquele dia que faria com o mesmo.  No dia que fui para fila marcar a minha tatuagem, não esperava que uma hora antes houvesse bastante pessoas na fila, peguei a ficha 173 e a expectativa era que 200 pessoas pegassem as fichas. Porém, só seriam atendidos os 60 primeiros.

Três anos depois que saí de casa escondida para ir a fila de tatuagem de Beto, pela primeira vez, a demanda pelo trabalho do tatuador cresceu bastante. De 200, o número saltou para 1500 pessoas, mostrando que a abertura da sua agenda é um evento tão importante quanto o Halloween do Gringo’s. Para que as pessoas não demorem dois anos de suas vidas para ser atendido pelo menino Roberto, a equipe resolveu fazer o Flashday.

O Flashday são tatuagens já definidas pelo artistas e também preço estabelecido. No próprio Facebook eles criam uma postagem anunciando o dia que eles iriam criar um post e os primeiros a comentarem nesta publicação irão ganhar uma sessão. Assim que eles criam essa publicação, o tão aclamado dia, tem mais de 200 comentários em menos de 10 minutos.

Por isso, tem que ficar dando f5 na página do tatuador no Facebook para ser rápido no gatilho, foi assim que consegui mais duas tatuagens do menino Roberto, para o desespero da minha mãe.

Sempre questionei Agatha, esposa de Beto e adorável assistente do mesmo, o porquê de não automatizar a fila, então ela solta um argumento fofo e irrefutável, às 08 horas da manhã quando fiz o meu lírio em fevereiro deste ano:

“Quando a gente faz essa fila presencial, mostra que as pessoas querem mesmo esta arte e é uma forma da gente ficar mais próxima do público. As pessoas não desistem e queremos marcar a vida das pessoas para sempre”.

Então foi assim que voltei a fila, no qual ampliaram o horário para evitar que as pessoas madruguem e sempre com um sorrisão no rosto para conversar. Diferente da primeira vez, eu pequei a ficha 92 de 1500 e pouquinhas, não sei o valor exato. Mas todos estavam felizes por compartilhar este momento, tanto os tatuados quanto o tatuador. Mostrando que é possível sim trabalhar com o que ama.

Claro que novamente eu fui escondida e claro que meus pais mandaram outra mensagem no Whatsapp perguntando o meu sumiço às 07 horas da manhã daquele domingo de dezembro e calorento:

“PELO AMOR DE DEUS, AONDE EU ESTAVA?”. Fui soltando as verdades aos poucos, tipo conta-gotas.

Quando “rasguei” que estava numa fila para marcar tatuagem, desta vez, eles só começaram a rir e falar: “Ai Meu Deus”, com medo de virar gibi, mas sabendo que isso é uma característica própria da minha pessoa. Além disso, eles ficam putos (achei melhor colocar esse termo para mostrar a intensidade da irritação) quando digo: “As tatuagens vão ajudar a vocês reconhecerem mais rápido meu corpo no necrotório”.

Só me chamado de maluca pelo fato de ter ido na fila com uma forte gripe que me deixou sequelada na semana passada e uma segunda inteira sem voz.

Sei que quero que Beto deixe meu corpo mais aquarelado, sempre registrando os acontecimentos da minha vida em tatuagem, independente se será uma outra flor ou uma artimanha futura que estou pensando em fazer e com certeza colocarei no Brechando.

E, assim, seguindo a vida.

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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