Trans, Punk e adolescente anarquista: Laura Jane Grace vem com o Against Me a Natal

Trans, Punk e adolescente anarquista: Laura Jane Grace vem com o Against Me a Natal

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Eu era uma anarquista adolescente, procurando por uma revolução
Eu tinha o estilo, eu tinha a ambição
Eu li todos os autores, eu sabia os slogans certos
Não havia guerra, exceto a guerra de classes. Eu estava pronta para colocar fogo no mundo
Eu era uma anarquista adolescente, procurando uma revolução

O ano era 2010, quando o álbum White Crosses (considero o meu disco favorito da trupe) foi lançado e surgiu esta música acima. Com uma voz marcante, guitarras afiadas e bateria em sintonia, além das letras criticando a sociedade em sua volta, fez o Against Me ficar famoso fora dos Estados Unidos com a música “I Was a Teenager Anarchist”.  O grupo, no entanto estava na estrada desde 1997. Todos os integrantes foram criados no sol escaldante da Flórida e estavam pensando como revolucionar aquele estado que para muitos era resumido apenas em Disney, latinos e laranjeiras.

O sucesso na Terra do Tio Sam veio, primeiramente, 10 anos depois da ideia de formar a banda. Foi no ano de 2007, quando eles lançaram o New Wave, que foi aclamado pela mídia e chegou ao número 11 nas paradas de rock da Billboard. Assim, foram convidados em abrir para o Foo Fighters na turnê da América do Norte.  Porém, poucas pessoas prestaram atenção na letra “The Ocean”, composta pelo então vocalista Tom Gabel:

Versão original e em inglês de The Ocean, do Against Me

If I could have chosen
Where God would hide his heaven,I would wish for it to be
In the salt and swell of the ocean.Carried by the currents
To all continents’ shores.Reaching into depths where the sun’s light has never shown.

Mixed with algae and coral.
Breathed in by sharks and dolphins.

Sailed by tanker ships, private yachts, swam in by tourists.

 

Working its way up through inlets, lakes, and rivers, swamps, and estuaries.

Down through limestone into the aquifer.

Purified by the county,

Pumped through pipes and out faucets.

Filled into a glass to meet the thirst of our children.

If I could have chosen, I would have been born a woman.

My mother once told me
She would have named me laura.

I would grow up to be strong and beautiful like her.

One day I’d find an honest man
To make my husband.

We would have two children,
Build our home on the gulf of mexico.

Our family would spend hot summer days at the beach together.

The sun would kiss our skin as we played in the sand and water.
And we would know we loved each other without having to say it.

At night we would sleep with the windows of our house left open.

Letting the cool ocean air
Soothe the sunburned shoulders
Of our children.

There is an ocean
In my soul
Where the waters
Do not curve.

There is an ocean
In my soul
Where the waters
Do not curve.

Se eu escolhesse
Onde Deus escondesse o seu céu,Desejaria que fosse
No sal e nas ondas do oceano.Carregado por correntes
Para as costas de todos os continentesAlcançar as profundidades onde a luz nunca alcançou

Misturasse com as algas e corais
Respirar por tubarões e golfinhos

Navegar por navios tanques, iates particulares e nadar com os turistas

 

Subindo pelas enseadas, lagos e rios, pântanos e estuários.

Descer pelo calcário até o aquífero.

Purificado pelo condado

Bombeado através de tubos e torneiras.

Preenchido em um copo para satisfazer a sede de nossos filhos.

Se eu pudesse escolher, deveria ter nascido uma mulher,

Minha mãe me disse uma vez
Ela teria me nomeado de Laura

Gostaria de ter crescido forte e linda como ela.

Um dia eu encontraria um homem honesto,
Para ser o mau marido.

Nós teriamos duas crianças,
Construíriamos nossa casa no golfo do México.

Nossa família iria passar os dias de verão quente na praia juntos.

O sol beijaria nossa pele assim que brincavámos na areia e água.
Nós saberiamos amar um ao outro sem ter que dizer isso.

E a noite dormiríamos com as janelas de nossas casas deixadas abertas.

Deixando o ar fresco do oceano
Acalmar os ombros queimados
De nossos Filhos

Há um oceano
Na minha alma
Onde as águas
Não ondulam

Há um oceano
Na minha alma
Onde as águas
Não ondulam

Para alguns, o Tom queria dizer que queria casar com alguém tão legal como o seu pai foi para mãe. Mas, na verdade, o vocalista estava ainda em conflito com algumas questões de sua infância, como a transexualidade. Embora tivesse casado com uma artista plástico e tivesse uma filha, ele não sentia como um homem cis, mas como uma mulher. A sexualidade e a questão de gênero no rock, até hoje, é um tabu. Embora o estilo seja relacionado com a liberação de algumas amarras sociais, ainda é questionado pela falta de participação de mulheres e também de um público LGBT, embora tenhamos uma Lita Ford e um Freddie Mercury.

Gabel cresceu em vários lares, chegando a morar na Alemanha e Itália, durante a Guerra do Golfo, por conta do pai trabalhar no exército. Seu lado revoltado, chegou aos 12 anos quandoos pais se divorciaram. Foi aí que começou a usar drogas (LSD, maconha e cocaína), chegando a ser preso por posse de drogas e roubo. Além disso, começou a escutar punk e grunge, ensaiando as primeiras bandas. Depois disso, veio as suas primeiras tatuagens e os primeiros discos do Against Me. A sua rebeldia e vícios escondiam a mulher que estava dentro dele e era colocada para fora através do ato de crossdressing.

Em maio de 2012, finalmente Tom virou a Laura Jane Grace, no qual a sua coragem de botar a sua verdadeira persona foi quando conheceu uma fã que também era trans. Porém, foi bastante difícil informar a família e aos companheiros de banda. A escolha do Laura foi pelo motivo que foi exposto na música “The Ocean”. Já o Jane foi escolhido porque acha bonito e Grace é o sobrenome de solteira da mãe.

A sua transição foi toda narrada no quinto álbum do grupo dois anos depois, em 2014, intitulada de “Transgender Dysphoria Blues”, que é praticamente um musical sobre a Disforia de Gênero,  o desconforto persistente com o sexo de nascimento e por um sentimento de inadequação no papel social deste gênero. Esse diagnóstico não pode ser feito se o indivíduo tem uma condição física que torne seu sexo ambíguo. A atração sexual pode se dar por homens ou mulheres e não é analisada nesse diagnóstico.

Esse disco do Against Me deu mais visibilidade para banda e é o mais vendido do grupo até hoje. Nesta mesma época, Laura recebeu apoio de vários artistas do rock, como Mike Shinoda, do Linkin Park, sem contar que outras mulheres trans assumiram a sua identidade de gênero, como Mina Caputo, vocalista do Life of Agony.

Laura e o Against Me

Depois disso, as coisas da adolescência, como a luta pela causa social, voltaram com tudo. Hoje é uma das mais importantes artistas do LGBT e luta pela importância de mostrar que ser trans não é uma depravação sexual ou algo do tipo. Recentemente, o Estado da Carolina do Norte aprovou uma lei que proíbe as pessoas trans de usarem os banheiros públicos dos gêneros com os quais se identificam. Com a mudança, as pessoas são obrigadas a seguir o gênero da certidão de nascimento ao usar os toaletes de tribunais, escolas, bibliotecas, cinemas etc. Pois bem, Laura subiu ao palco de uma casa noturna de Durham e colocou fogo em sua certidão de nascimento.

Além disso, as suas redes sociais são os espaços que utiliza para falar sobre a questão LGBT nos Estados Unidos, o governo de Donald Trump e também as turnês da banda, no qual finalmente pisarão no Brasil e diferente do circuito São Paulo e Rio de Janeiro, o Against Me tocará em Natal, no dia 21 de outubro, na abertura do Festival Dosol, na Ribeira.

O último álbum do grupo se chama Shape Shift with Me (2016). Em entrevista ao Estado de S. Paulo, ela disse que o disco era ” uma resposta a Exile On Main St. dos Rolling Stones, Exile In Guyville da Liz Phair e A Grand Don’t Come For Free do The Streets.”.

Em setembro deste ano, vai ser lançada a sua autobiografia no Brasil, institulada de “Tranny: Confissões da Anarquista mais Infame e Vendida do Punk Rock” conta a história da banda e a transição de Laura. O texto intercala relatos em primeira pessoa com diários que ela escreveu desde os 8 anos de idade, três anos depois de se reconhecer como mulher ao ver uma apresentação de Madonna na TV.

“Algumas pessoas podem não querer escutar minha música por não se identificarem com uma vocalista trans, mas o que elas deveriam perceber é todos somos iguais e queremos as mesmas coisas. Todo mundo quer ser amado, ninguém quer ficar sozinho, não importa se você é hetero, gay ou trans”, diz ela na entrevista.

Além de Natal, o grupo vai fazer shows em Curitiba e São Paulo. A turnê pretende tocar mais músicas do último disco, mas isso não quer dizer que vai deixar de lado os álbuns mais antigos.

As 10 primeiras atrações do Dosol

Comemorando 15 anos, a festa de abertura do Festival DoSol será dia 21 de outubro no bairro da Ribeira, e nos dias 24 e 25 de novembro no Beach Club, Via Costeira, onde estará concentrado o maior número de artistas. Serão 100 artistas que tocarão nesses três dias de evento. A única novidade são os artistas do projeto Incubadora, organizado pela equipe do festival para lançar novos artistas, os paulistas do Bratislava e a apresentação de Letrux, que foi confirmada desde o início do ano.

Até agora as artistas confirmados são:

Molho Negro (PA) – Rock furioso vindo do Pará. Passam pelo Dosol em tour nacional divulgando seu novo álbum.

Bex (RN) – Artista inventiva e arrojada, trabalha com camadas de música eletrônica e minimal. Artista revelação da cena potiguar.

Carne Doce (GO) – Banda goiana que vem à Natal para lançar o seu tão aguardado álbum novo e dá sequência aos shows excelentes que tem feito Brasil afora.

Potyguara Bardo (RN) – Mais uma revelação da cena eletrônica potiguar. Artista inquieto, intenso e instigante. Lança no Festival DoSol seu primeiro trabalho que faz parte do Projeto Incubadora DoSol.

Letrux (RJ) – Uma das maiores cantoras da música brasileira da atualidade e também um dos shows mais aguardados dessa edição do Festival Dosol.

E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante (SP) – Nuances sonoras, postrock, intensidade. Esses paulistas são o que tem de melhor nesse estilo aqui no Brasil.

Deb and the Mentals (SP) – Rock riot liderado pela vocalista Deb Babilônia. Tem fogo e agita geral!

Bratislava (SP) – A música alternativa e intensa chagando ao Dosol. Debut da banda em terras potiguares.

Luaz (RN) – Novo projeto da vocalista Luana (Ex-Seu Ninguém). Pop rock bonito e bacana para cantar junto.

As vendas antecipadas já começaram e estão à venda no www.sympla.com.br/festivaldosol2018.

Festival DoSol tem patrocínio da Oi através da Lei Câmara Cascudo e Governo do RNNatura por meio do Natura Musical e apoio cultural Oi Futuro. O player oficial do evento é o Spotify

 

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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