Como sobreviver ao apagão como vivesse em um apocalipse zumbi

Como sobreviver ao apagão como vivesse em um apocalipse zumbi

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Não vou falar dos prejuízos causados na tarde de ontem, 21 de março de 2018, pois já foram falados nos grandes jornais e portais de notícias. Quero falar da dificuldade de se comunicar com parentes no escuro e como estamos acomodados com a tecnologia, que quando rola uma pane geral não sabemos o que fazer. Todo mundo fala que este mundo de cibercultura é maravilhoso, o smartphone é a extensão do nosso corpo, mas esquecem de fazer um manual do que fazer quando praticamente um país inteiro está no escuro e como se comunicar quando não tem sinal de celular, telefones fixos praticamente não existem e muito menos não sabemos comunicar via rádio.

O Brasil inteiro sabe que o Nordeste e Norte tiveram um apagão e ficamos mais de quatro horas sem energia elétrica e muito menos de internet, se você tivesse um 3G era apenas a Vivo e a Oi. Enquanto isso, alguns estabelecimentos fecharam as portas, pessoas desesperadas nas paradas de ônibus para chegar em casa antes de escurecer e um engarrafamento monstro, principalmente por conta dos sinais de trânsito desligados.

Se você achou como eu que o mundo iria acabar na tarde desta quarta-feira (21). Parabéns, você vai identificar este texto!

Quem teve uma crise de ansiedade, não conseguiu falar com os familiares e ainda teve uma lista de trabalhos pendentes. Parabéns! Você vai identificar com o texto. Ter ansiedade é um sentimento normal, o problema é que quando o mesmo vem em exagero, este pode atrapalhar o cotidiano e até a forma de raciocinar.

Além de jornalista e blogueira, eu trabalho como social media numa agência. Quando ocorreu a queda de energia, ainda estava trabalhando, terminando de editar uma imagem para colocar na postagem de uma empresa e vi que meu computador apagou sozinho. O mesmo ocorreu com os meus colegas. Inicialmente, achamos que a energia tinha caído, mas vimos que a rua inteira também estava desta forma.

Era isso que você encontrava às 18 horas da quarta

“Deve ter acontecido apenas em Natal”, eu pensara. Depois, o meu chefe diz que “um dos clientes ligou para ele dizendo que o estabelecimento dele também estava sem energia.”.

Com um pouco de 3G que eu tinha fui ver no Twitter (melhor rede social para saber das novidades) que muita gente estava reclamando da queda de energia, assim como amigos meus de outras cidades do Nordeste. Aí encontro uma nota da Chesf dizendo que houve um blecaute em alguns locais do Brasil.

Depois vejo um link da Tribuna do Norte e compartilho no grupo do trabalho.

A primeira coisa é ligo para minha mãe. Mas, só chamava. Pensava que ela estava dormindo, pois nesse horário a mesma está deitada em casa assistindo alguma novela mexicana do SBT. Depois ligo para o meu namorado que mora em outra cidade do Nordeste e ele responde prontamente que no trabalho dele está com gerador e que ficasse tranquila, além de falar que voltasse para casa com cuidado.

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Eu não tinha noção de como seria problemática minha tarde. Fui liberada mais cedo, pois lembrava que meu notebook tinha bateria e eu tinha o meu power bank para carregar meus aparatos tecnológicos. Mas, eu não sabia o que estava por vir.

Saindo do trabalho, eu já via várias pessoas na calçada sentada, conversando e comentando sobre o ocorrido. Um dos sinais de três tempos estava quebrado e foi quase um desafio de videogame para cruzar a via:

1) Todo mundo estava pirado; 2) Ninguém respeitava as regras de trânsito normalmente e em situação de desespero a situação aumenta para 10 vezes; e 3) Cadê o guarda da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana para botar ordem ?. Então, eu tinha sentir o momento certo para atravessar, então preferi evitar locais com cruzamentos ou sinais de trânsito por motivos óbvios.

Chego em casa e vejo um amontoado de gente na calçada. A academia que fica na esquina de casa com as janelas abertas e as pessoas tentando chamar o pessoal que estava dentro de casa para abrir as portas.

Enquanto isso tentava ligar para minha mãe, buzinar, jogar os sapatos do outro lado do muro e nenhum sinal da dita cuja. Até que a vizinha me ajudou e olhando a casa pelo muro viu que não tinha ninguém. E agora? Sem sinal, sem ninguém em casa. O que fazer?

Oi, trânsito, tudo bem com você? Cadê o seu amigo, amarelinho (guarda)?

Lembrei que era quarta e fui nos lugares mais prováveis que poderia encontrar: a manicure e casa da minha avó. Não vi o carro dela estacionado nos dois lugares. Então perto da UFRN, eu vejo mensagem de Whatsapp, era a minha irmã perguntando aonde estava e que não conseguia falar com mainha. Então, a gente resolveu que iria se encontrar no campus, mas ela não tinha contado, ainda, que estava andando a pé do cursinho, próximo do Midway, até a zona Sul da cidade.

Então, eu resolvo esperar na UFRN, que tinha gente e um wi-fi, fiquei ouvindo as novidades através do rádio e se tinha alguma novidade, mas as notícias eram as mesmas, parecia que estava andando em círculos. Enquanto esperava, aparecia uma crise de ansiedade (falta de respiração, coração acelerado, suar…) e os pensamentos tortos:

“Cadê o meteoro?”
“Que situação mais caótica”
“Será hoje que todo mundo vai morrer?”
“Que triste forma de morrer: sozinha dentro do carro e sem falar com ninguém.”.
“Pelo menos está tocando músicas legais na 104 FM.”.
“Cadê a irmã que não chega? Se é para morrer, pelo menos que eu fique do lado de alguém que amo”
“Status: Esperando as trombetas dos cavaleiros do Apocalipse”
“Respira, mantenha calma, foi só uma queda de energia. Se a Idade Média sobreviveu sem a invenção de Thomas Edison, você sobrevive.”.
“Tem 3G, procurar o telefone do trabalho do meu pai. Vixe, só está dando ocupado.”.
“Mãe não atende de jeito nenhum.”.

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Estava escurecendo enquanto minha irmã voltava a ligar dizendo que estava na parada de ônibus do Natal Shopping. Mas, como atravessar a Salgado Filho no meio do engarrafamento? Então, lembrei de pegar o viaduto do quarto centenário, depois a Prudente de Morais (apenas o viaduto da via estava com luz) para ir em direção da Rua Raimundo Chaves e por dentro da Candelária, passando pela deserta e escura Praça dos Eucaliptos (parecia um cenário do Stranger Things).

Stranger Things ou Praça do Eucaliptos?
Tinha luz no viaduto

No meio da escuridão e trânsito, eu consigo “salvar” minha irmã e meu pai finalmente consegue ligar para ela. A gente falou (de modo desesperado) que estávamos bem e perguntamos pela nossa mãe. Então, ele responde que está em casa e com ela.

Voltamos para casa, todos assustados pelo que houve, visto que ninguém conseguia se comunicar um com o outro, mas aliviados que todos estávamos bem. Agora, uma das soluções é procurar a ter um telefone fixo novamente para evitar problemas como esse. Ficávamos olhando para o céu estrelado, a lua crescente e temendo de dormir no escuro, além de ter conversado aonde estava quando tudo começou. E um pouco com inveja dos prédios que tinham luz por conta dos geradores de energia.

O relógio marcara 19h30 quando a energia voltou, a vizinhança gritou feliz e rolou até fogos para comemorar o retorno. Parecia aquele episódio das cataratas do Pica-Pau. Foi assim meu momento no apagão 2018 no Nordeste e como sobrevivi, após 7 anos que não tinha algo do gênero.

Voltou a energia? Hora de correr para tirar as pendências do trabalho e comer aquela pizza de frango com catupiry.

Vela no meu quarto, últimos momentos do apocalipse zumbi
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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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