Peça que crítica o extermínio de negros vem à Natal

Peça que crítica o extermínio de negros vem à Natal

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O Marcelo Yuka já dizia

tudo começou quando a gente conversava
naquela esquina alí
de frente àquela praça
veio os homens
e nos pararam
documento por favor
então a gente apresentou
mas eles não paravam
qual é negão? Qual é negão?
o que que tá pegando?
qual é negão? Qual é negão?

é mole de ver
que em qualquer dura
o tempo passa mais lento pro negão
quem segurava com força a chibata
agora usa farda
engatilha a macaca
escolhe sempre o primeiro
negro pra passar na revista
pra passar na revista

todo camburão tem um pouco de navio negreiro

O grupo cearense “Nóis de Teatro” no fim do mês de janeiro vem para Natal fazer apresentações gratuitas nos espaços públicos natalenses: Praça da Árvore de Mirassol (25, 26 e 27 de janeiro) e Centro Cultural Jesiel Figueiredo (28 de janeiro, Área de Lazer do Gramoré).O espetáculo, com dramaturgia de Altemar Di Monteiro e direção de Murillo Ramos, traz à cena a criminalização e perseguição da juventude negra das periferias. A apresentação em Natal terá tradução simultânea em Libras, Língua Brasileira de Sinais.

É dividida em três atos e conta a história de Natanael, um “anti-herói” que nasce na periferia, vive inserido num sistema de opressão e violência e, aos 18 anos, resolve entrar pra polícia militar. Trata-se de uma dramaturgia épica, onde o ator-narrador é o grande foco, numa espécie de “tragédia afro”, com elementos alegóricos e representativos do universo do movimento negro no Brasil e no mundo, além de múltiplas referências à mitologia dos Orixás.

Confira o teaser do espetáculo a seguir:

Em 2015, Fortaleza presenciou o maior massacre da sua história, onde 11 negros foram mortos, no qual a imprensa chamou de “”. Desencadeada por uma sequência de revanchismos e acertos de contas originados numa discussão banal, a maior chacina da história de Fortaleza. O crime aconteceu na na rua Lucimar de Oliveira, no Curió, bairro cujo nome foi atrelado de maneira inesquecível a uma tragédia sem precedentes locais.

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Na madrugada dos dias 11 e 12 de novembro, numa ação contínua, que durou aproximadamente 3h30min, um grupo de policiais militares assassinou outras sete pessoas, feriu gravemente mais três e praticou três torturas físicas e uma tortura psicológica. Todas as vítimas assassinadas eram do sexo masculino, além de que nove dos onze indivíduos mortos tinham entre 16 e 19 anos.

A polícia estabeleceu três linhas de investigação para averiguar a série de crimes. A primeira seria uma possível retaliação pela morte do policial militar Valterberg Chaves Serpa, de 32 anos, morto na noite de 11 de novembro, horas antes do início da chacina, quando reagiu a um assalto ao tentar defender a esposa, na Grande Messejana. Além dessa possibilidade, haveria também mais duas represálias: uma relacionada à morte de um traficante da região, e outra interliga à prisão de um outro traficante da Grande Messejana.

O Ministério Público do Ceará (MPCE) indicou que os policiais militares envolvidos. Após investigação realizada pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da Controladoria Geral de Disciplina (CGD), o MPCE ingressou com denúncia contra 45 policiais, sendo dois oficiais e 43 praças. A justiça aceitou a denúncia de 44 agentes, deixando fora um dos oficiais. Os promotores de justiça que investigam o caso anunciaram que vão recorrer da decisão, por ter provas suficientes da omissão do tenente-coronel que exercia o cargo de supervisor de policiamento naquela noite.

Os policiais envolvidos foram denunciados por homicídios duplamente qualificados, tentativas de homicídio e tortura.

O Nóis de Teatro é um grupo de teatro de rua existente desde 2002 na periferia de Fortaleza. Nesses 13 anos, o grupo resiste em sua comunidade desenvolvendo projetos culturais no Território de Paz do Grande Bom Jardim tornando-se referência nacional de trabalho artístico desenvolvido em periferia.

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Composto por artistas e ativistas em sua maioria negros, o Nóis carrega ampla experiência estética de luta social onde, a partir do olhar sobre a periferia da cidade, contrói uma relevante ação cultural no estado. A sede do grupo tem sido espaço de circulação e produção de bens culturais, lugar onde os 9 participantes realizam noites culturais, oficinas para a comunidade, além de produzir e distribuir a publicação mensal do Jornal “A Merdra”. Fortalecido em seu território, o Nóis tem ampliado suas atividades, participando de grandes mostras, encontros e festivais, com ações já realizadas em 18 estados brasileiros.

A pesquisa estética do grupo tem como matriz um olhar político sobre a sociedade, apoiando-se na poética democrática dos espaços públicos como lugar de encenação e descobertas. As vertentes do Teatro do Oprimido e do Teatro Épico Dialético e suas interfaces com a performance do ator de rua tem sido o mote para a sua construção poética, refletida no seu atual repertório de espetáculos: “A Granja”, “Sertão.doc”, “Quase Nada”, “Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro”, além das performances anuais da sua intervenção urbana “O Jardim das Flores de Plástico”.

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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