[ARTIGO] Veja você, arco-íris já mudou de cor. Já faz tempo

[ARTIGO] Veja você, arco-íris já mudou de cor. Já faz tempo

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O artigo é bem pessimista, pois mostra cada vez a realidade que está estampada na minha cara. Do Feudalismo à Revolução Industrial, a sociedade sempre mostrou seu lado podre. Eu cresci ouvindo nas aulas de histórias que coisas como o apartheid, nazismo, desigualdade entre as mulheres, escravidão com os negros (e estrangeiros, como foi o Império Romano) e entre outras formas de diminuir o ser humano foram exterminadas. Falavam para mim que nada disso aconteceria e que era coisa do passado, agora somos uma raça evoluída, cheia de tecnologias e agora o destino é avançar. Alguns apontam que a criatura de seis cabeças, pernas e braços era o Imperador Nero em Apocalipse de São João, mas hoje penso que qualquer um podia fazer as mesmas atrocidades, basta conseguir seguidores que acreditam no mesmo ideal.

Alguns tentaram cobrir esse lado podre passando um pano com álcool dizendo que estava tudo bem, mas a situação só piorou.

Nunca acreditei no conceito de que as coisas ruins dissipariam para sempre em nossas vidas, visto que no colégio eu ouvia que era uma aberração apenas por não seguir os padrões dos demais colegas. Pensava: “Se estão dizendo que eu não devo manter o meu cabelo colorido porque apenas é feio e me agredindo verbalmente diariamente por causa disso, no qual os convivo diariamente desde crianças, será que eles são capazes de coisas piores com desconhecidos ?”.

Eu vou partir
Pra cidade garantida, proibida
Arranjar meio de vida, Margarida
Pra você gostar de mim

Essas feridas da vida, Margarida
Essas feridas da vida, amarga vida
Pra você gostar

Vital Farias

Era comum ver os olhares dos professores assustados quando alguns diziam com menos de oito anos que “a minha empregada não era boa suficiente lá em casa”. Ou achar que todo morador de rua está pedindo esmola porque é vagabundo. Quando criança nem percebia que como foi grave este discurso e que uma falta de desconstrução dentro do ambiente escolar ajudou a gerar esta geração de preconceituosos. Hoje, estas mesmas crianças batem panelas, vestem camisetas da CBF e são funcionários fantasmas de órgão público.

Sem contar que eles apoiavam o pessoal que estava cada vez mais destruindo recursos naturais, com objetivo de garantir própria sobrevivência, para criar novas fábricas e ganhar mais dinheiro. Usando, assim, um pano fino para mascarar os trabalhos desumanos com a desculpa de novas formas de trabalho. Ora, se eles fazem isso para mentir uma atrocidade, imagine o que eles fazem escondidos.

Mas, agora, este pano está furado de tanto esticar para esconder e agora vemos todo o tipo de mazela, no qual antes só víamos as silhuetas.

Políticos como Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro (suposto líder da turma da extrema-direita), no Brasil, abriram a caixa de Pandora, onde todo o caos está sendo mostrado há dois centímetros de nossos olhos. Ficam dizendo para gente que o seu preconceito é só uma opinião (“eu não tenho preconceito, mas…)” e que deveríamos respeitar. Outros que pensam assim começaram a sair de seus casulos e a seguir os mesmos passos.

Desde quando você xingar as pessoas é uma opinião? E agora? Todo dia eu escuto gente falando os mais absurdos de boatos como uma forma de colocar lenha na fogueira do que já está ruim.

Recentemente, uma amiga minha voltou ao Brasil, após não ter conseguido renovar o seu visto de imigrante. A gente ficou conversando sobre o governo de Donald Trump e ela soltou a seguinte frase: “Na minha certidão de nascimento diz que eu nasci branca, mas nos Estados Unidos isso não importa, agora. Quando Obama ainda estava no poder, todo mundo falava comigo normal, apesar de saberem que meu sotaque era de estrangeiro. Eles já ficam te julgando por você não ser uma americana. Estou sentido na pele o que é ser imigrante e os olhares de algumas pessoas querendo me agredir. Isso é bastante assustador.”.

Agora, as pessoas vomitam os seus nojos e preconceitos ou fazem isso facilmente dando surras na rua em pessoas, como se fossem sacos de plásticos jogados ao relento. Hoje, a gente recebe mensagens anônimas desejando a morte da outra por pensar diferente, é ameaçado de ser processado por mostrar as contradições e olha que não estou aprofundando na ideologia entre direita e esquerda, essa dicotomia que a Guerra Fria criou, embora tenha acabado um ano antes de eu nascer. Dizem que o politicamente correto é ruim: Mas o que seria o politicamente correto? Aquele que é vendido nos comerciais para mostrar que é uma empresa cool ?

Não, a coisa ruim sempre existiu e olhando uma pessoa próxima levar uma surra covardemente em Ponta Negra, voltando do Alecrim de dor dentro do Uber, me faz pensar como a gente é muito grotesco e está disposto a fazer tudo quando ninguém está vendo. O soco ele sentiu, mas também outras pessoas foram atingidas, principalmente pelo fato de a sociedade o forçar a querer ter um determinado padrão, ficar igual, tudo cinza. Somos uma geração que enfatiza a exceção e não a regra. Acha que só você foi exceção que todo mundo deve seguir o mesmo caminho.

Termino este texto com uma frase do professor Ruy Rocha: “Eu não gosto do politicamente correto. O termo sugere mudança cosmética. A ideia que se cria é a de que eu não devo externar meu preconceito. Posso continuar sendo machista, racista e homofóbico, contanto que não demonstre. Eu não preciso me desgastar na luta diária para ser melhor, para enfrentar as culturas de opressão que vão se acumulando em mim. Não preciso ser humanista. Basta parecer”.

 

 

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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