Minc: Cultura deve ser tratada como política pública?

Minc: Cultura deve ser tratada como política pública?

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No álbum “Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas”, lançado em 1987, o grupo Titãs disponibilizou uma música chamada “Comida”, onde uma das estrofes mais famosas eram:

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte…

Após 29 anos, a letra composta por Arnaldo Antunes continua sendo atual. Por sinal, Antunes criticou bastante a situação cultural brasileira, ele é um dos apoiadores da ocupação de brasileiros nos prédios pertencentes ao Ministério da Cultura (Minc). Os artistas potiguares também aderiram à causa. Eles ocuparam o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde terça-feira (17). O objetivo do protesto é criticar as medidas do novo Governo Federal, no qual conurbou o Ministério da Educação com o da Cultura.

O Iphan é uma autarquia do Governo do Brasil, vinculada ao Ministério da Cultura há 30 anos, responsável pela preservação do acervo patrimonial tangível e intangível do país. Dentro dos prédios que é administrado pelo instituto está a Fortaleza dos Reis Magos, cuja obra de reforma está paralisada. A criação da Instituição obedece a um princípio normativo, atualmente contemplado pelo artigo 216 da Constituição da República Federativa do Brasil.

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Apresentações culturais são destaques da manifestação

Neste momento, dentro do casarão do órgão localizado na Ribeira, acontecem oficinas, ensaios abertos, mostra audiovisual e música. Centenas de pessoas estão dentro do local. Cheguei às 16 horas e estava rolando várias atividades ao mesmo tempo. O sol ainda estava forte quando o Brechando foi acompanhar a manifestação e perguntou aos ocupantes do prédio e também aos simpatizantes: Qual a importância de manter a cultura como política pública?

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Fotos: Lara Paiva

Para a produtora cultural, Nathalia Santana, o Ministério da Cultura é uma das poucas formas que tratou o assunto como política pública, independente de que lado político seja inserido.

“Falar de cultura não depende de partido político ou governo, é algo nosso, que vem cotidianamente, da nossa vivência, crenças e modos. Dentro da cultura está a arte e as manifestações artísticas, como teatro, cinema, circo, dança, literatura e a fotografia. O papel do governo é estimular a produção, acesso e continuidade com estas manifestações artísticas. As pessoas pensam que cultura é só shows e festas culturais, é muito mais amplo.  A Cultura é uma forma de ajudar a manter os grupos artísticos, patrimônio material e imaterial e comunidades quilombolas e ciganas”, disse a produtora, que também faz parte da organização de comunicação da ocupação em Natal, que acontece em outras cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza e dentre outras.

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A artista Stephane Vasconcelos lamentou a situação de transformar um Ministério da Cultura para uma Secretaria Nacional de Cultura. De acordo com a Vasconcelos, o ocorrido é um exemplo de um retrocesso. “Já foi comprovado com estudos que a importância cultural é importante para a formação intelectual da pessoa e também a geração de recursos. A cultura, hoje, representa cinco por cento do que está sendo produzido economicamente”, disse Stephane Vasconcelos.

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Já para Gustavo Guedes, a fusão do Ministério da Cultura com Educação não é benéfica para as duas áreas. A tendência é que o estímulo às atividades culturais diminua cada vez mais. “Agora com a fusão de dois ministérios sem o planejamento ou estudo mostra que os políticos estão despreparados e que estão nem aí com a cultura”, justificou.

O Rudá de Melo analisou que mesmo voltasse o Ministério, a gestão deve ser questionada e necessita retirar a falta de valorização cultural. “Precisa ter algum gestor especificado na questão cultural, pois através dela que traz valores importantes para a sociedade e comunidade. Se voltar o Ministério da Cultura neste governo será uma outra forma de gestão e terá que mudar de muitas coisas.”.

Como falado anteriormente, durante a ocupação acontecem várias atividades culturais, como palestras, oficinas, apresentações culturais e dentre outras coisas. A intenção é mostrar a importância da cultura em nosso cotidiano. O ator César Ferrario participou de uma palestra feita por estudantes de Teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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“O espaço da arte e da cultura é manter as vivências de uma determinada população”, disse o ator César Ferrario

Ferrario, por sua vez, acredita que a cultura é algo útil para sociedade e o lugar onde as pessoas possam se sentir livres.

“A importância da cultura para mim é o lugar de liberdade. É uma janela aberta para que possamos imaginar, se projetar, outras realidades que estão distantes da gente. O espaço da arte e da cultura é manter as vivências de uma determinada população, algo que provavelmente não experimentei e não compreendo. É o espaço útil”, comentou.

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O estudante de Teatro, Mário Rubens, que também participou da palestra, avaliou a importância sociocultural no Brasil: “Manter a cultura abrange todas as áreas que envolve a cidadania. Sem cultura, nós não somos cidadãos. As pessoas estão vendo a importância de manter as manifestações históricas e culturais vivas”.

À medida que as atividades das manifestações aconteciam, várias pessoas compareceram ao bairro da Ribeira para registrar o momento. Amanda Bones trouxe a sua câmera analógica com filme preto e branco como forma de mostrar o apoio ao protesto de ocupação do prédio.

A Amanda analisou que a importância da cultura como política pública é uma necessidade básica tão importante quanto a comida. “Nós temos necessidades básicas, como alimentação, saúde e moradia, mas a questão cultural também está incluída. Cultura é o que move as pessoas e o nosso intelecto”, disse.

Bones ainda elogiou a participação das pessoas neste ato. “A ocupação mostra um pouco do que a cultura pode funcionar para uma população, onde as pessoas podem compartilhar o intelecto e conhecimento com as outras pessoas.”, Amanda Bones.

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Dentro da ocupação, os servidores do Iphan estão apoiando a manifestação, no qual alega que a situação atual do Ministério da Cultura já era caótica e estão temendo como funcionará o setor cultural brasileiro a partir destas mudanças. “A junção dos dois ministérios já mostra que não houve um estudo necessário para saber o quanto afetaria para as duas pastas. Foi um ato de politicagem”, alegou uma das funcionários que pediu o anonimato.

Os artista potiguares e apoiadores ainda continuam acampados por tempo indeterminado e durante todos os dias ocorrerão diversas atividades.  Confira as fotos da ocupação, fotografadas na tarde desta quarta-feira (18):

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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