O que aprendi sendo aluna do Setor II da UFRN

O que aprendi sendo aluna do Setor II da UFRN

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Durante o terceiro ano de Ensino Médio todos falavam do consumo de maconha no Setor de Aulas II da UFRN. Já sabia que as aulas do curso de jornalismo seriam por aquelas bandas. É lá que também acontece as aulas de Letras, Geografia, História, Gestão de Políticas Públicas, Ciências Sociais, Filosofia, Psicologia e dentre outros cursos na área de humanas. Sem contar que lá tem o Ágora, onde você pode aprender diferentes idiomas pagando bem menos que as escolas tradicionais. Comecei a fazer francês por lá. Mas, entrando lá, vi que o local não era apenas isso.

Depois que você entra na universidade, esqueça seu resultado do Enem e qual escola você entrou. No Setor II e aos professores não importa. Muitas vezes o primeiro colocado pode ser menos inteligente em comparação com aquele que precisou passar com a ajuda das cotas.

Você pode aprender tudo no Setor II, tanto dentro das salas como fora.

Euzinha no Setor II

Sim, existe a maconha, no qual muitos estudantes dos outros lugares da UF tentam desbravar o Setor II achando que é uma boca de fumo ou fica curioso para saber se tem alguém vendendo, andando com cara de desconfiado ou com medo de ser julgado. A galera só está na dela e não atrapalhando ninguém. Raramente (ou Nunca), você vai ver um usuário de maconha forçando a barra para fumar. No mínimo, discutindo o porquê ainda é proibido o consumo nas terras tupiniquins.

A minha primeira mensagem de bem-vindo ao setor 2? Bem, quando eu e uma amigas fomos ao banheiro do segundo andar bloco I (os setores de aula da UFRN são divididos em blocos) e lá estava uma mulher com seios desnudos, se arrumando e dançando ao som de Vanessa da Mata. Logo vi que os universitários tratam mesmo aquele local como segunda casa e que eu começasse a me livrar das amarras sociais.

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Obviamente fiquei assustada, mas percebi que tinha de aprender a conviver e entender o lado das pessoas que estavam rondando aquele lugar. Se não fosse o Setor II, iria ser uma pessoa que falaria besteira por aí. Foi lá que conheci pessoas de todos os cantos de Natal e falaram das experiências de vida.

Descobri que não dá para achar que seus problemas são piores que os outros. Reconhecer os níveis de dificuldade da vida, lhe fará menos intolerante. Como assim? Vou ser direta, parei de reclamar de coisas supérfluas enquanto meu amigo precisava de uma roupa social para trabalhar, mas não tinha grana. Também parei de reclamar da minha casa enquanto gente que saiu do interior está se matando para conseguir vaga na residência universitária.

Lá poderia vestir o que quiser e não precisava andar toda arrumada. Afinal, na universidade estamos para aprender e não para desfilar.

Se você não consegue se adaptar ao Setor 2, você está fardado para viver numa bolha social para sempre. Ou ficar conhecido por trancar GPP porque não tinha ar condicionado no Setor II.

Foi no Setor II que vi dois casais homoafetivos se beijando. Inicialmente achava que isso era algo esdrúxulo. Mas, graças à uma desconstrução social, eu vi que lá era um dos poucos locais que poderiam demonstrar afeto sem serem julgados. Foi lá que conheci o universo trans, observando pessoas como Leilane Assunção e Emily Mel mostrando que trans podem sair daquele estereótipo que vemos direto no programa da Luciana Gimenez.

O tempo todo no Setor 2 é motivo de questionamento, até quando um estudante surta e começa a ficar andando pelado. São lá que surgiram as primeiras manifestações políticas de todos os tipos, desde o aumento da passagem até questionamentos de melhorias dentro da instituição de ensino.

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Lá respira política, no qual todo dia é um debate a céu aberto, onde você conhece todos os tipos de opiniões possíveis e impossíveis. A sede da Adurn (sindicato dos professores universo) fica lá.

Embora, às vezes, tenhamos vontade de matar aquele cara que fala besteira ou um intolerante hipócrita, pois o local teoricamente não deveria recepcionar os intolerantes.

Mas todos se unem em prol de um animal abandonado ou alguém que sofreu algum constrangimento.

Entenderás a diferença de pixo e graffiti e ainda que os estudantes se comunicam e expressam as suas artes através dos muros do Setor de Aulas II. Nos corredores você aprenderá as mais diferentes manifestações artísticas, embora não concorde com algumas.

Se no próximo semestre estará estudando por lá, bem-vindo ao Setor II.

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Uma resposta para “O que aprendi sendo aluna do Setor II da UFRN”

  1. Parabéns pela lente do seu olhar que contribuí para mostrar que as diferenças e vivências democráticas fissuram normas e regras hegemônicas pré estabelecidas. Simplesmente amei

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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