Memórias do Alecrim dos anos 70 é tema do livro de Luclilio Barbosa

Memórias do Alecrim dos anos 70 é tema do livro de Luclilio Barbosa

Compartilhe:

Lucilio Barbosa, inicialmente, foi biólogo, mas depois resolveu ir para as palavras, migrou para uma área totalmente oposta, a Publicidade. Ele trabalha como redator publicitário há 26 anos e nesta quinta-feira (18) lança o seu segundo livro com o Jovens Escribas. O lançamento acontecerá no Clube de Radioamadores, localizado do lado da Cidade da Criança. O motivo do título? A vida não é feita de cronogramas, para começar a sua carreira.

“Minha formação na graduação é Ciências Biológicas,na UFRN, meu curso de origem, meu período de universidade mais extenso, incluindo um mestrado em Ecologia que fiz em João Pessoa, mas não cheguei a concluir. Mas como a vida é a ciência do imperfeito, no meio do caminho tinha uma pedra. Eu sempre escrevi, comecei com 13 anos, escrevendo um poema quando soube que John Lennon morreu. Foi meio de supetão, saiu o poema, surgiu. Aí continuei escrevendo sem compromisso, coisas adolescentes, nada sério e nem aproveitável. Traduzia músicas pop/rock do inglês. Era natural escrever. Mesmo cursando biologia, eu escrevia, e um professor meu um dia me disse que eu escrevia bem. Aquilo ficou na minha cabeça e, quando precisei arranjar emprego, sustentar a família, por motivos que só Freud explica, em vez de procurar na biologia, procurei no jornalismo e na publicidade. Queria viver de escrever. E consegui.  Depois, já agora nos anos 2000, fiz o mestrado em Letras, pra aproximar minha formação do meu ofício”, afirmou Lucilio, que hoje percebe as mudanças que a internet está fazendo na Comunicação Social como um todo.

“Agora, cada um pode produzir seu próprio conteúdo. E veicula, muitas vezes de graça. Às vezes o que meu amigo produz me interessa mais do que o que as emissoras de televisão têm a dizer. Às vezes um youtuber tem mais audiência do que a maioria dos programas de tv e rádio. Por isso, os modelos tradicionais estão em crise, mas como estamos em transição, não dá pra dizer como vai ficar. Nesse ínterim, é dureza pra quem depende de emprego, quer ganhar sua grana, pagar as contas. O certo é que as mídias de massa offline, que faziam circular muito dinheiro, estão exauridas, esgotadas. A verba está migrando para o universo online. Mas no meio do caminho dessa migração, muito dinheiro desapareceu. Aí somem os empregos, os veículos, as agências de propaganda…”, lamentou

O escritor Lucilio Barbosa

O livro narra a trajetória do jovem Lucilio no bairro do Alecrim, zona Leste da capital potiguar, onde passou a sua infância e hoje só vai para fazer compras. Foi na Avenida 10 (explicamos numa matéria o porquê das ruas do Alecrim terem números), no qual passou os seus primeiros anos, época em que lhe foram apresentadas as histórias em quadrinho, os livros, a televisão, o rock e o futebol, e onde cruzou suas primeiras ruas e conheceu as primeiras fronteiras. Foi neste mesmo local que presenciou o  movimento das ruas, a avenida 10, o barbeiro da esquina, a goiabeira no quintal, a ida para o fotógrafo Campelo para tirar foto, o Café Vencedor, a padaria, a televisão preto e branco, os primeiros amigos, a melancolia, o passarinho na gaiola, o eclipse do sol e “são muitos flashs, lembranças desestruturadas, momentos”.

Você pode ler também:  Thiago Medeiros lança novo livro de poemas para celebrar seus 30 anos de vida

“Tenho uma visão da vida como uma grande peça de teatro que não permite ensaio. É tudo de primeira. É uma peça na qual você contracena com o acaso, acertando ou errando as falas. Viver seria uma ciência. Só que a ciência do imperfeito. Ao contrário da Ciência, com “c” maiúsculo, que exige precisão, perfeição, a vida não exige ensaio científico, nem permite tudo perfeitinho, às vezes é um experimento onde dá tudo errado. Mesmo quando sai tudo perfeito, o imperfeito se revela no que poderia ter sido, nos erros, nos acertos, na sorte ou no azar. Por isso é que acho que a vida exige muita técnica. Só que uma técnica de baixa tecnologia, técnica espiritual, mental. Daí, poemas sobre a vida se tornaram poemas sobre a ciência do imperfeito.”.

De acordo com os Escribas, a obra traz uma sensação gostosa de nostalgia ao trazer poemas que têm uma visão original, amorosa e crítica de lugares e do tempo, uma verdadeira viagem no túnel do tempo até o Alecrim dos anos 70. Mas atenção! A rebeldia também está presente! A indignação, a vontade de lutar e o poder transformador das palavras estão lá, em meio aos poemas. “A Ciência do Imperfeito” reúne poemas que falam com uma beleza e um toque de nostalgia sobre o passado e como ele tem o poder moldar e nos transformar nas pessoas que somos hoje.

“Acho que prefiro falar das relações entre as pessoas. Não evoluímos, apesar das chances que tivemos. Ficou tudo mais superficial, volátil. Tolerância, compreensão, entender as diferenças são conceitos meio esquecidos. Sei que é meio saudosismo com aquela história de “paz e amor”, mas esse era um movimento amoroso interessante, essa coisa de se tentar viver em harmonia, harmonia com o outro, com o diferente, com a natureza, são tentativas de evolução espiritual e humana que não aconteceram. Isso me deixa mais triste que indignado.”, lamentou.

É o segundo livro do autor Lucilio Barbosa, que demorou cinco anos para lançar uma nova obra. “Sou indisciplinado para escrever. O primeiro era um apanhado de muitos anos de escrita que um dia transbordaram para um livro. Foi meio que um deadline cumprido, depois de muitas horas de trabalho. Este livro de agora surgiu e foi escrito em dois meses. Mas sem compromisso editorial. Da primeira lembrança que eu quis transformar em poema até a última alteração no último poema, eu fiz nesses 60 dias, levado não sei se por uma inspiração ou porque tudo que eu queria dizer se esgotou logo. Entre o lançamento do primeiro e começar a escrever esse segundo, não senti necessidade, vontade, inspiração ou como queiram chamar. E como não me ocupo em ter a obrigação de escrever, fui deixando o tempo passar.  As poesias vieram no momento certo, quando quiseram vir”, explicou.

No entanto, a indignação, a vontade de lutar e o poder transformador das palavras estão lá, em meio aos poemas. “As mudanças podem ser vistas em todo canto, a toda hora, todo dia, em casa, na rua, na família, é preciso ficar de antena preparada para captar os sinais, olho e peito aberto.  Isso acompanhar no sentido de ver, perceber, entender. Acompanhar no sentido de seguir tendências, seguir moda, não é muito meu estilo, eu não sou muito novidadeiro não. Procuro acompanhar a música e suas mudanças. Sigo uns caminhos novos profissionais, procuro utilizar novas técnicas do ofício. Acho que só.  De resto, eu vou fazendo meu caminho mesmo. Mudando em algumas coisas, em outras não. Mantendo o status quo de minha persona comigo mesmo”, contou.

Você pode ler também:  Lucas Der Leyweer, radicado no RN, participa da Bienal do Livro-RJ

Além do livro de Barbosa, será apresentado o programa de financiamento coletivo da Jovens Escribas para viabilizar o livro “Caio na Terra da Música” do músico e professor Júlio Lima. Ainda outras obras serão relançadas, como “Pirueta”, da poeta Regina Azevedo e “O Sátiro e o Cordeiro”, de autoria do jornalista e mais novo autor dos JE, Pedro Vale. Para completar, ainda haverá a venda de vários títulos da editora com preços e promoções mais do que especiais.

O músico e professor Júlio Lima defende a teoria de que qualquer pessoa pode desenvolver o talento musical, desde que receba os estímulos corretos e exercite os ensinamentos que receber. Foi graças a sua vivência como professor de música que viu muitos adolescentes e crianças se afastarem da música por serem intimidados graças ao contato com professores de métodos mais agressivos e nada estimulantes. Um dia, Júlio decidiu elaborar uma ficção na qual acrescentou muitos elementos lúdicos, transformando a teoria musical numa grande aventura fantasiosa na qual o herói, “Caio”, trava contato com os incríveis habitantes da chamada “terra da música”.

O livro, porém, apesar de já ter sido escrito, ainda não foi diagramado, uma vez que antes de passar pelo processo de edição, precisa arrecadar dinheiro que viabilize sua publicação. Para isso, a Jovens Escribas criou um projeto de financiamento coletivo que entrará em funcionamento nesta quinta, tanto no site da editora quanto no próprio evento de apresentação do projeto e lançamento de “Ciência do imperfeito”.

Jovens Escribas também levará para o evento todo o seu acervo de publicações e oferecerá as obras em pacotes promocionais imperdíveis. Vale conferir.

Serviço:
Lançamento do livro “A Ciência do Imperfeito” de Lucilio Barbosa
Apresentação do projeto de financiamento coletivo do livro “Caio na terra da música” de Júlio Lima
Relançamentos dos livros “Pirueta” de Regina Azevedo e “O Sátiro e o cordeiro” de Pedro Vale
Local: Clube dos Radioamadores
Data: 18 de Maio de 2017 (Quinta)
Hora: A partir das 19h

Tags

Commente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

compartilhe:

Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



Últimas brechadas



Breche aí